CONTO - A DAMA MISTERIOSA - PARTE FINAL

 Olá minha gente linda, 

Nosso conto mudou de nome, então de AQUI JAZ foi para A DAMA MISTERIOSA, ei-lo terminado, aproveitem e boa leitura.

A DAMA MISTERIOSA - PARTE FINAL


Entretanto, a morte do avô trouxe descobertas nunca imaginadas, ex-esposas, supostos tios e tias, o que fez com que ela começasse uma investigação. Como certas coisas eram difíceis de averiguar, ela começou a fazer barganhas com os espíritos. Para cada pedido atendido por ela, o finado tinha que lhe fazer um favor, tais como distrair o padre, enquanto ela espionava os arquivos da Igreja; causar uma confusão entre os policiais, na delegacia, para ela olhar furtivamente no computador detrás do balcão. Assim, Mariska pesquisou profundamente a vida do avô na internet e nos arquivos da cidade. As coisas reveladas eram terríveis, o avô estava longe de ser aquele famoso empresário respeitado na grande capital paulista, rico, empreiteiro, que construíra majestosos hotéis, construiu fortuna e dava de tudo para a neta tão infeliz.

A neta foi descobrindo que Alberto era líder há mais de 30 anos de uma seita satânica que sacrificava animais de pelugem negra e meninas de 9 a 11 anos, antes da menarca, como sacrifícios a Baphomet. Era a origem de tanta riqueza e ele tinha feito igrejas satanistas por diversos bairros nos quais os sacrifícios eram feitos às dezenas por mês. As várias esposas o ajudavam nos templos diabólicos espalhados pela cidade e recebiam um bom montante por isso, e agora estavam igual urubu na carniça atrás da fortuna maior que imaginavam que Mariska herdara, mas os advogado tinham lido os testamento, ela herdou a empresa principal, sua filiais, e casas na praia, no exterior e barras de ouro no banco.

A jovem se sentiu repentinamente muito cansada e fraca para lutar, não tinha namorado ou marido que a defendesse, nem amigos confiáveis, nem primos que não fossem interesseiros e materialistas. Ela se viu diante da maldade do mundo em estado puro e pensou como o avô conseguiu manter aquela fachada de religioso, que vivia na Igreja, não faltara nenhuma missa quando a avó dela ainda estava viva. Mas algo dentro de seu peito lhe disse que a sofredora avó devia ter descoberto tudo e morreu pouco depois dos 40 anos de tanto desgosto, do câncer linfático, talvez porque nunca pudesse ter desabafado com ninguém.

Nem um mês havia se passado, desde o falecimento de seu único parente de confiança, quando começaram a chegar e-mails anônimos, dos quais não era possível descobrir o IP, como telefonemas misteriosos, com aparelhos disfarçando a voz, pedindo dois milhões de dólares, para não revelar que Alberto tinha sido um assassino dos mais sanguinários. Os chantagistas mostravam vídeos e fotos, como prova dos atos mais bárbaros cometido por ele. Foi quando ela teve a ideia de pedir ajuda dos espíritos falecidos e muitas eram almas de meninas adolescentes, que queriam há muito tempo lhe revelar a verdade.

Da mesma forma que descobriu tudo sobre Alberto, investigando com o auxílio bem oportuno das almas penadas, Mariska novamente buscou saber quem estava por trás da chantagem que sofria. Descobriu ser a dama do Cemitério quem estava chefiando a operação e marcou, numa noite fria de dezembro, um encontro, no túmulo do avô, onde entregaria a soma em dinheiro solicitada em troca das provas contra seu avô.

Naquela noite fatídica, ela foi vestida de branco, carregando escondido no peito um crucifixo, e mal entrou no Cemitério, ao contrário do dia do enterro, viu dezenas de espíritos do além, ela sabia que estavam mortos, porque saíam de trás das tumbas e lhe acenavam. Quando chegou no local, onde estava enterrado Alberto, com plaquinha dourada e muitos jarros de flores, com a lanterna acesa, viu a dama do colar de pérolas com 3 homens armados. Ela colocou a valise no chão e revelou que eram lingotes de ouro no valor de 2 milhões de dólares.

Quando a elegante e misteriosa mulher ordenou a um dos homens para recolher a valise, ouviu-se um grito: - Não toque nisto, senão você morre, desgraçada!!!

Mariska virou-se junto com a dama de preto e olharam estarrecidas Alberto apontando uma arma para elas, com uns dez homens igualmente armados por de trás. Ela nunca soube bem o que realmente aconteceu, os tiros começaram de repente, mal conseguiu se jogar ao chão e ficou deitada com a mão no peito e sentiu os espíritos em volta de si. Soube depois, que um dos espíritos esbarrou na mulher que atirou primeiro e começou a guerra, foi uma mortandade. A madame e seus homens morreram ali, como também Alberto e alguns de seus homens, enquanto os outros fugiram.

A alma agradecida de uma mocinha de 16 anos lhe disse que ela já podia levantar, mas devia sair depressa, pois logo chegaria a polícia e o melhor era que não estivesse ali. Ela se ergueu o mais rápido que pode, mas tropeçou em cima da valise, lembrando que devia levar também o dinheiro para não deixar pistas de sua presença. Algumas almas foram com ela até o portão e ali ficaram até que saísse no seu carro. No dia seguinte, nos jornais, as manchetes só falavam da falsa morte por Covid 19, de Alberto de Alcântara Monteiro, encontrado assassinado na Lapa, com diversas figuras importantes da sociedade, contando prefeito, deputados e a maior socialite das colunas sociais, mas não se sabia a razão do tiroteio. A neta do grande milionário estava desaparecida, não sendo encontrada para dar entrevistas.

Depois de uns 3 meses, as empresas foram vendidas para acionistas, as propriedades no Brasil também, e Mariska nunca mais foi encontrada. Grandes entidades católicas receberam enormes fortunas de caridade e somente as almas finadas carentes e amigas sabiam que a jovem mudou de identidade e país, vivendo confortável, atendendo pedidos do além e curtindo os mares da Flórida.

 

BICHO-PREGUIÇA É DESTAQUE NA LITERATURA BRASILEIRA

 

Bicho-preguiça é destaque na literatura brasileira.

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

 

Shery Duque Pinheiro é bióloga e Mestre em Biologia e Comportamento Animal pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). É presidente do Programa de Estudo, Manejo e Conservação do Bicho-preguiça , uma associação que há 21 anos trabalha pela conservação de preguiças que ocorrem no Brasil. Além de trabalhar como professora e pesquisadora, a escritora vem atuando em diferentes meios para divulgar a ciência e a importância de conhecer e preservar os animais. 


Além de autora de artigos e capítulos de livros científicos, no segmento da literatura infanto juvenil publicou o artigo Destros ou canhotos, isso vale para os animais?!? Na Revista Ciência Hoje das Crianças, em seguida o livro Mário, um bicho sem preguiça A aventura de Margarete: a preguiça-de-coleira ambos para a série de contos infantis do Programa de Estudo, Manejo e Conservação do Bicho-preguiça. Participou das Antologias No meio do Caminho Tinha um professor  e Resenhando (Editora Clube de autores), Animais em foco pelo GAIA- Grupo de Atividades Interdisciplinares sobre os Animais (no prelo), Elementos da Natureza pela Literart kids (no prelo). É membro imortal correspondente da Academia de Letras do Brasil – Seccional Campos dos Goytacazes e do Coletivo Mulheres Artistas.

 

“É urgente dar visibilidade para a causa animal, e usar a literatura, o elemento lúdico para conscientizar e popularizar.”

 

Boa leitura!

 

Escritora Shery Duque Pinheiro, é um prazer contarmos com a sua participação na revista Divulga Escritor. Conte-nos, como começou o seu gosto pelos animais, em especial, a preguiça?

Shery Duque - O amor pelos animais começou na infância, porque minha mãe sempre gostou muito de animais e estávamos sempre rodeados por eles em casa. Na adolescência fiz um curso técnico em agropecuária que me aproximou do universo dos animais explorados para alimentação humana e me despertou para a vontade de seguir trabalhando pelo seu bem-estar. Na faculdade de Biologia tive meu primeiro contato com diferentes espécies de animais silvestres e em especial com as preguiças. Iniciei o trabalho em prol de sua preservação naquela época desenvolvendo inúmeros projetos, até consolidarmos a associação Programa de Estudo, Manejo e Conservação do Bicho-preguiça.

 

O que a inspirou a escrever “A aventura de Margarete: a preguiça-de-coleira”?

Shery Duque - Toda a coleção de contos infantis prevista para o Programa de Estudo, Manejo e Conservação do Bicho-preguiça visa abordar as questões mais impactantes para cada uma das espécies. No caso da preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus), a intenção era chamar atenção para as pressões ambientais como o desmatamento causado pela expansão agropecuária, indústria de móveis e pressão imobiliária sobre a Mata Atlântica (bioma no qual esse animal ocorre), fatores que estão levando essa espécies à extinção e torna-la conhecida do público.

Apresente-nos a obra

Shery Duque - Na obra A aventura Margarete narra a história da preguicinha Margarete, uma preguiça-de-coleira que vai comemorar seu aniversário de cinco anos junto com seus pais e todos os parentes que moravam na floresta. Com sua amiga Lili, uma mariposa que vive em seus pelos, e os primos Tutu, um tatu canastra, e Tatá, um tamanduá de colete, saem a procurar os pais da Margarete floresta a fora.

Encontram a coruja Chuvisco, que os acompanha. Descobrem árvores cortadas, muitos animais assustados, outros desaparecidos, áreas de desmatamentos, rodovias, máquinas barulhentas, carros, casas, humanos … e a civilização. Agora eles precisam encontrar os outros animais que sumiram e os pais de Margarete, mas a única pista vem de um pica-pau meio maluco. Com muita coragem e determinação eles irão em busca de repostas e viverão uma grande aventura com um final surpreendente!

 

O que mais a atrai nesta obra literária?

Shery Duque - A possibilidade de tornar a preguiça-de-coleira conhecida dos brasileiros. É uma lastima que nossas crianças estejam mais familiarizadas com os animais da fauna exótica do que com as espécies que ocorrem aqui no Brasil. É urgente dar visibilidade para a causa animal, e usar a literatura, o elemento lúdico para conscientizar e popularizar.

 

Além de “A aventura de Margarete: a preguiça-de-coleira”, você tem outro livro, direcionado ao público infantil, publicado, “Mário, um bicho sem preguiça”. Apresente-nos a obra

Shery Duque - Mário um bicho sem preguiça é uma história voltada para o público infantil, indicada para faixa etária de 3 a 8 anos. O livro narra a história de Mário, um filhote de bicho-preguiça que nasceu em um parque na cidade e procura demonstrar o modo de vida das preguiças. O que comem, por que eles são lentos, por que eles costumam descer ao chão para defecar, como chegaram aos parques urbanos e quais são os principais problemas que enfrentam vivendo nesses lugares.

Em formato brochura, a produção da obra foi desenvolvida com um forte conceito ambiental e didático que possibilita a associação entre o conhecimento técnico e o lúdico. Com uma linguagem totalmente adaptada para o público infantil.

 

Quais os principais objetivos a serem alcançados por meio da leitura desta obra literária?

Shery Duque - Tornar a preguiça-de-coleira conhecida dos brasileiros em primeiro lugar. Com sequência ter uma instrumento legítimo de educação que promova de fato uma conscientização. É uma lástima que nossas crianças estejam mais familiarizadas com os animais da fauna exótica do que com as espécies que ocorrem aqui no Brasil.

Eu costumo dizer que falhamos terrivelmente na divulgação científica  quando o conhecimento não consegue  atravessar os muros da universidade e falar a língua das pessoas não acadêmicas. Não podemos preservar aquilo que não conhecemos! Toda mudança requer primeiro por uma expansão de consciência e em seguida ações efetivas. O povo precisa conhecer e se apropriar de suas riquezas para que possa defendê-la e lutar pela sua preservação.

 

O valor arrecadado das vendas dos livros será doado a uma associação.  Comente sobre esta ação.

Shery Duque - Como escritora diretamente envolvida na causa da preservação animal, todos os livros sobre as preguiças, eu abro mão dos direitos autorais. Assim todo valor arrecadado com a venda dos exemplares é doado integralmente para a associação Programa de Estudo, Manejo e Conservação do bicho-preguiça. É uma associação sem fins lucrativos constituída por profissionais altamente qualificados, todos voluntários, o dinheiro ajuda a manter os projetos de pesquisas e reabilitação em diversos lugares com diferentes espécies.

 

Onde podemos comprar os seus livros

Shery Duque - Os livros podem ser adquiridos no site da associação: www.projetopreguica.org.br

Ou diretamente comigo através das minhas páginas nas redes sociais:

https://www.facebook.com/sheryduqueescritora

https://www.instagram.com/sheryduquepinheiro/

E-mail: sheryduque@gmail.com /tel whatsapp comercial (24) 99276-1963

 

Quais os seus próximos projetos literários?

Shery Duque - Estou trabalhando em outros dois livros infantis que devem ser lançados para o Natal: ABC dos animais – contos da fauna brasileira e A vida secreta das preguiças. Ambos estão fase de edição. Há ainda outras duas Antologias em que estou participando e que estão em via de serem lançadas: Animais em Foco pelo Grupo Gaia, prevista para Outubro de 2020 e Elementos da Natureza pela Literart Kids que seria em Abril mas foi adiado devido a pandemia.

 

Que desafios você encontra no mercado literário brasileiro?

Shery Duque - Acredito que os desafios são diferentes quando olhamos para os distintos setores do mercado literário. As editoras de modo geral, precisaram fortalecer o e-commerce buscando novos nichos para chegar aos consumidores em tempos de distanciamento social.

Os autores independentes como eu, sempre tiveram as feiras regionais e canais da internet como principal forma de divulgar nosso trabalho, sentimos ainda mais a situação e a recessão advinda da pandemia. É possível perceber nas redes sociais, que são um termômetro e uma vitrine, que há um esforço coletivo para seguirmos produzindo e viabilizando nossas publicações através de academias, associações, coletivos de literatura, antologias, editais e sites que imprimem sob demanda para manter o valor competitivo do livro, sem perda de conteúdo e qualidade gráfica.

 

Conte-nos em sua opinião o que cada leitor pode fazer para ajudar a vencermos os desafios encontrados no mercado literário brasileiro?

Shery Duque - Existem muitas formas de contribuir com o trabalho novos autores independentes e pequenas editoras. Um forma de contribuição direta é comprar seus livros, contribuir com financiamentos coletivos, e dar livros de presente. No entanto, as formas de contribuição virtuais ou indiretas também são muito importantes no contexto atual. Você pode seguir as páginas dos autores nas redes sociais, curtir os conteúdos postados, interagir com comentários e sugestões, recomendar e sugerir as obras para os amigos e participar dos eventos e lançamentos.

 

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora Shery Duque Pinheiro. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

Shery Duque - Eu sou  grata a Revista Divulga Escritor pelo espaço e oportunidade de mostrar um pouco do meu trabalho e da causa ambiental por trás dele. Eu costumo dizer que quando o livro é honesto, ele encontra seu público e assim tem sido com minhas obras. Espero contribuir para o engrandecimento da sociedade levando aos pequenos leitores, suas famílias e professores um conteúdo com qualidade técnica, estética e pedagógica. Pois compartilhar nosso saber, falar sobre o amamos é sempre um prazer e um grande privilégio.

 

 

Divulga Escritor, unindo você ao mundo através da Literatura

Quer ser entrevistado? Entre em contato com nosso editorial, apresentaremos proposta.

Contato: smccomunicacao@hotmail.com  

NOVIDADES, ENTREVISTAS E DICA DE REVISTA SHOW DE BOLA

 OLÁ GENTE LINDA DO MEU KOKORÓ

Tenho muitas novidades, agora vamos ter entrevistas toda semana. Serão dois segmentos de entrevistas, o primeiro sobre escritoras nacionais e autoria feminina, sempre com indicações dos livros da autora mencionada. 

1. Estou iniciando uma parceira com o site www.divulgaescritor.com e vou divulgar as entrevistas que eles me enviarem com autoras maravilhosas.

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2. Outro segmento de trabalho do meu Blog Letras Notívagas vai ser as entrevistas que vou começar a fazer com imortais, ou membros das Academias das quais faço parte e são essas: Academia Acreana de Letras, Academia de Letras do Brasil - Campo de Goytacazes; Academia Mineira de Belas Artes, Academia Luminescense de Devoção às Artes e Letras - Sucursal Brasil, Nucleo de Letras y Artes de Buenos Aires, Círculo Acadêmico de Letras e Artes de Moçambique e, por fim, Núcleo de Letras e Artes de Portugal. Vocês poderão conhecer dezenas e dezenas de escritores.

3.Também quero falar da Revista Literária da Lusofonia - também do pessoal do site Divulga escritores, vejam abaixo foto e links:

Shirley Cavalcante - Editora/Coordenadora

Me aguardem e vamos que vamos, bjos letrados

CONTO A DAMA MISTERIOSA - PARTE UM

 Olá meu povo lindo,

Comecei a participar de um projeto do colega Luca Nunes e Paloma, com o desafio de escrever um conto de terror durante as quatro semanas do mês de outubro. Achei muito legal e legítima a ideia e então comecei a escrever no Instagram, e já publiquei 3 partes por lá.

O problema é que não dá pra escrever muito, só umas dez linhas, portanto juntei as 3 partes e coloquei aqui. A segunda parte é a parte final e você poderá ler na próxima postagem. Bora curtir muito e partilhar

AQUI JAZZ - CONTO DE MARGARETE PRADO

                                          Cemitério da Lapa - São Paulo

AQUI JAZZ

O táxi estacionou diante da entrada do Cemitério da Lapa. São Paulo vivia uma tarde cinzenta e fria. Vila Leopoldina silenciosa e estranhamente calma para uma sexta-feira. Mariska desceu do carro e entrou no Cemitério ajeitando o vestido. Que ideia idiota vir ao enterro de saltos agulhas. Louca mesmo, chão difícil, cheio de pedras, folhas e galhos. O Cemitério era suntuoso e antigo. Fundado em 1918, na capital paulista, para enterrar as vítimas da Gripe Espanhola, quando morreram 14 mil pessoas no Brasil.

Mariska sentiu um arrepio. Era uma tarde fria, mas sua alma estava ainda mais gelada. Era o enterro de seu avô, que morreu do Covid 19. As pessoas cujo óbito marcava a morte pelo vírus maligno, os parentes estavam proibidos de ir ao sepultamento. Ela foi escondida da família e do hospital, por teimosia. Seu avô tinha sido seu grande aliado em vida. Sempre a protegeu das visões que a perseguiam e lhe ensinava lições da Bíblia. Ele orava com ela, desde que Mariska era criancinha.

Ela via almas de outro mundo. Eles falavam com ela, pediam ajuda ou somente choravam. Ninguém acreditava nela ao contar para os adultos, somente o avô tinha acreditado nela e lhe apoiava e confortava. Ela nunca pisou num Cemitério por medo mesmo de ver muitos espíritos ao mesmo tempo, como lhe acontecia em hospitais. Mas ali reinava paz e além dos galhos e folhas secas estalando, nada mais havia para perturbar o silêncio reinante.

Mariska foi andando devagar até uma parte do Cemitério na qual havia somente placas no chão. Sem túmulos. Era a novidade do local, devido ao aumento de enterros com a pandemia. Lá distante, no imenso jardim, quatro funcionários desciam o caixão lacrado pra dentro de uma enorme vala. O vô Alberto nem estava sendo enterrado na lápide da vozinha Anita. O corpo dela ficou no Cemitério da Consolação, no túmulo pertencente à família por décadas. O seu avô não teve permissão da Família da avó de Mariska de ser enterrado onde sua esposa foi.

Também, as mortes por Covid em São Paulo estavam sendo monitoradas pelo governador e prefeitura, todas as vítimas estavam indo para o Cemitério da Lapa outra vez. Mariska nem mesmo sabia se o avô estava mesmo no caixão. Eles lacravam tudo e não permitiam a nenhum dos familiares chegar perto. Ela sentia que estava acontecendo alguma coisa estranha, mas não conseguia entender por que tinha essa sensação.

Portanto, ela seguiu o féretro escondida, bem de longe, parou atrás de uma das altas árvores daquele solo sagrado, olhando o jardim imenso colina abaixo, coberto de placas no chão.

Ouviu um barulho de tosse atrás de si e voltou-se rapidamente. Uma linda mulher com olhar de paisagem mirava a jovem. Muito elegante, de colar de pérolas, com blusa rendada e saia preta. Aparentemente, com mais de 40 anos. A estranha falou primeiro: - Espionando o enterro?

Mariska sentiu seu coração se agitar. Nos primeiros momentos, ela nunca sabia se estava vendo alguém vivo ou morto. Decidiu ser suscinta: - É o enterro do meu avô.

- Alberto foi homem bem sucedido e criou bem os filhos, mas ninguém nunca soube o preço que pagou. Ele tinha muitos segredos. Não me admira não ter ninguém em sua partida final e a neta estar se escondendo.

- Ele morreu do Covid 19. Proibiram pessoas no cortejo fúnebre.

- E você acreditou nisso? Onde que um homem robusto, lúcido e cheio de saúde vai morrer de corona vírus? - kkkkk, ela soltou uma longa risada.

Mariska olhou rápido na direção do sepultamento, por causa do barulho que a estranha fez dando risadas. Mas os homens calmamente estavam jogando terra na lápide. Ela voltou-se outra vez na direção da desconhecida certa de que teria desaparecido. A mulher tinha se erguido do mausoléu onde se sentara e estava em pé. - Você ainda vai descobrir muita coisa Mariska e quisera que jamais as soubesse. Vá embora para bem longe, menina. Fuja enquanto é tempo.

Dito isto, a mulher se virou da direção da saída, sem esperar resposta e foi embora em passos rápidos. Mariska teve vontade de chamá-la, de correr atrás, mas ambos os movimentos iam atrair a atenção dos homens que estavam encerrando o trabalho de enterrar seu avô. Ela se encolheu atrás das árvores e esperou que fossem embora também. Depois, caminhou até o túmulo, chorou olhando a areia fofa em cima da terra, ainda tinha que mandar fazer uma plaquinha e ficou nessa melancolia por algum tempo, antes de ter forças para ir embora.

Os dias passaram e Mariska nunca mais soube da mulher, mas foram chegando dívidas e mais dívidas de seu avô, mulheres que se diziam sua esposa e queriam saber da herança. Ela morava com o avô desde que perdera os pais num estranho acidente de carro, filha única, sendo sua mãe também a única filha de seus avôs. Os avós paternos moravam no exterior, era o que diziam, e ninguém reclamou de seus avós ficarem encarregados de adoção. Quando ficou adolescente, a avó faleceu de câncer, era uma mulher muito calada e triste, que não saía de dentro da Igreja, ia a missas todos os dias e vivia brigando com seu avô. Ela se mantinha longe das brigas e tentava focar nos estudos, porém os espíritos a perturbavam dia e noite.

Ela frequentou o ensino médio solitária e sem amigos, pois os espíritos derrubavam as coisas de seus colegas dentro da sala de aula, escondiam as mochilas, arrastavam os pratos para o chão na cantina, na hora do almoço, derrubam as amigas no banheiro. Assim, todo mundo achava que Mariska era bruxa, endemoniada, acreditavam que ela era que fazia todos os truques e traquinagens, pois somente ela enxergava os espíritos fazendo as maldades. E não conseguia impedi-los, eles a atormentavam com essas peraltices até que os ouvisse e atendesse um último pedido de pendências que haviam deixado em vida. No entanto, mal atendia um falecido e ficava em paz alguns minutos, já surgia outro e o martírio se repetia.

Ficou tão marcada na escola, que muitas vezes a diretora mantinha a menina da diretoria enquanto os colegas iam para casa, para que não houvesse nenhum acidente da saída ou ponto do ônibus, pois muitos colegas haviam se queixado que ao caminhar ao lado de Mariska até o portão da escola ou até o ponto da condução urbana, coisas estranhas aconteciam e eles tinha medo. Portanto, para proteção da mocinha e de seus colegas, a diretora ficava com ela em seu gabinete por meia hora ou mais, até que tivesse permissão de ir embora. Mariska não se aborrecia com isto, porque no gabinete da diretora era um dos poucos lugares onde nenhum espírito lhe perturbava e ela aproveitava para fazer a lição de casa sem interrupções ou para ouvir música em paz. Sua vida era triste e sofrida, ela também gostava de passar as tardes na Igreja, porque lá também ficava sem ver nada, mas o padre olhava para ela com ar de piedade.

Ficou adulta, fez faculdade com os mesmos aborrecimentos e colegas mantendo distância, ninguém queria saber de fazer trabalhos escolares com ela, ou até mesmo se sentar perto dela.  Ela almoçava e jantava sozinha no restaurante universitário e era isolada no dormitório. O avô Alberto foi seu único amigo e confidente, ele fazia patuás para ela e orava com palavras estranhas. Porém surtiam efeitos por alguns dias e os espíritos voltavam com suas petições e pendências. Mariska nem mesmo podia ter um namorado.



Entretanto, a morte do avô trouxe descobertas nunca imaginadas, ex-esposas, supostos tios e tias, o que fez com que ela começasse uma investigação. Como certas coisas eram difíceis de averiguar, ela começou a fazer barganhas com os espíritos. Para cada pedido atendido por ela, o finado tinha que lhe fazer um favor, tais como pegar distrair o padre enquanto ela espionava os arquivos da Igreja, causar uma confusão entre os policiais na delegacia, para ela olhar furtivamente no computador detrás do balcão. Assim, Mariska pesquisou profundamente a vida do avô na internet e nos arquivos da cidade, fosse na Igreja, delegacia ou escolas onde o avô estudou ou trabalhara. E as coisas que lhe foram reveladas eram de arrepiar.

 - CONTINUA NA SEXTA-FEIRA DIA 30/10/2020